sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Negócios soci... o quê?

Até muito pouco tempo atrás eu desconhecia o termo "negócios sociais". Fui apresentada a ele em um momento em que buscava respostas e vou te contar que mudou meu entendimento de mundo, viu. Mesmo com o conceito formado e compreendendo bem diversos exemplos, vi muita resistência cada vez que eu tentei repassar a ideia. Ouvi gente falando "mas não é exploração isso?". Será que é?

Todo meu conhecimento básico sobre negócios sociais foi formado na Choice, uma conferência sobre o assunto que eu fui com a cara e com a coragem e que me abriu diversos caminhos. Assim que voltei de lá, escrevi um pequeno enorme texto (em 3 postagens já deu para perceber a minha prolixidade latente, heim?) sobre o assunto, e enviei para algumas pessoas. As fontes são os palestrantes do evento, que ocorreu em São Paulo entre os dias 18 e 19 de agosto desse ano.

Meu objetivo era quase o que eu tenho aqui, simplesmente contar para o mundo o que eu recém descobri. Prevejo uma centena de futuros posts sobre o assunto, porque hoje em dia sou uma feliz profissional da área de negócios sociais. Mas quem quiser entender o conceito e lidar com a minha prolixidade, eis-lo aqui:


"Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão" Amartya Sem - Prêmio Nobel da Economia 1998

Você nem sabe, mas existe, atualmente, a formação global de todo um ecossistema de negócios sociais. Os atores dessa nova rede são diversos, e variam entre empreendedores, gestores, investidores, acadêmicos, pesquisadores e organismos multilaterais, além de uma mídia interessada em promover esse ecossistema social.  São pessoas que se encaixam no perfil daqueles que não esperam o governo iniciar o processo, mas que buscam criar, por conta própria, canais de colaboração.

Os negócios sociais repensam os modelos atuais de empreendedorismo, buscando a criação de iniciativas cujo impacto social vai além da geração de emprego e das externalidades positivas inerentes de qualquer negócio. O objetivo aqui é a formação de uma sociedade verdadeiramente desenvolvida. Busca-se, enfim, a evolução da sociedade, resolvendo os desequilíbrios. É formando, portanto, um modelo híbrido de negócio, um terceiro setor com fins lucrativos, o serviço em prol do serviço social, o chamado setor dois e meio (não é nem o segundo-setor, de serviços, e nem o terceiro-setor, de ONGs).

Os negócios sociais, antes de tudo, devem ser sustentáveis. Nele, o cidadão é um ator corporativo, buscando uma inovação bottom-up, solucionando problemas. A sustentabilidade se dá em duas vias, a primeira por fazer bem à sociedade, e posteriormente, pelo negócio ser autossustentável. Busca-se a eficiência ecológica e social, que já começa, desde o início, com tecnologia limpa e com responsabilidade social. Não é menos pior, é, literalmente, melhor.

Hart e Prahalad, em 2002, afirmaram que o mundo corporativo deveria olhar para a base da pirâmide social (classes C, D  e E) para ter acesso a um mercado consumidor de 4 bilhões de pessoas. É esse mesmo mercado que se oferece aos negócios sociais, com a diferença que o empreendedor social tem interesse em promover a transformação. O propósito é promover impacto social claro e tangível, com mais agilidade e abertura às inovações do que as corporações jamais fariam.  O que realmente importa, no caso, é como o lucro é atingindo. 

Hart apresenta o “the sustaintable value portifolio”, que é um guia para a formação dos negócios sociais.
- Tecnologia limpa:
·         Desenvolvimento de novas competências
·         A busca por inovação
                - Base da pirâmide:
·         Encontrar as necessidades do mercado
·         Criar modelos de negócio inclusivos
- Prevenção de poluição
·         Minimizar o desperdício
·         Aumentar a produtividade dos recursos
- Vida dos produtos
·         Diminuir o impacto do uso do produto no meio-ambiente
·         Aumentar transparência/accountability no processo econômico

O negócio social não se baseia na formação de mercado de demanda, mas em responder às necessidades da base da pirâmide. Não se busca apenas que o consumidor compre, mas que o preço seja, de fato, acessível. São, portanto, mercados formados pelas necessidades já existentes nessas comunidades, que sirvam de plataforma a alguma outra mudança social, otimizando o impacto. O foco é o atendimento às necessidades de todos os seres vivos, não apenas dos consumidores. Objetiva-se, assim, o bem comum. O produto ou serviço tem verdadeiro valor ético, por ser socialmente e ecologicamente responsável baseado na ideia da tripple bottom line (foco ambiental, social e econômico).
A meta dos negócios sociais no Brasil é, portanto, melhorar as qualidade de vida das classes C, D e E, gerando lucro para que os empreendimentos sejam sustentáveis. A tendência desse novo modelo de negócio é focar na inovação, oferecendo alternativas diferentes para essa busca pelo impacto social.  

3 comentários:

Outra Errante disse...

Puxa, pensar nos outros, noa visar apneas o lucro, que bacana! Mas não entendi porque as pessoas pensariam que isso é exploração. =S

Alice disse...

pelo foco ser a base da piramide e não via assistencialismo, mas por um
negócio com objetivo de lucro.

Outra Errante disse...

Esse nosso capitalismo animal, sempre visando lucro, senão não serve né? Não conseguem enxergar lucro em fazer o bem, em fazer prosperar o proximo tbm.