sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O dragão sonhando


Ontem eu assisti a um workshop  ministrado pelo John Croft, criador da Gaia Foundation e de  uma metodologia o Dragon Dreaming. O texto abaixo é e-n-o-r-m-e,  então só sugiro a leitura para quem quiser saber BASTANTE a respeito. 

Quando inicialmente eu escutei sobre o Dragon Dreaming, achei maior viagem e uma tendência um tanto quanto auto-ajuda, mas as idéias do cara são realmente legais e deveriam mesmo ser disseminadas, porque oferecem uma perspectiva muito construtiva à gestão de projetos.

O mais bacana é que, embora o cara fale de gestão de projetos comunitários, a metodologia pode ser transferida, literalmente, para QUALQUER PROJETO.

O site oficial é esse aqui Dragon Dreaming.

A metodologia é divulgada como "O Dragon Dreaming é uma forma de fazer com que nossos sonhos se tornem realidade, executando projetos de vida de forma simples e transformadora. Uma possibilidade de transitar entre o pragmático e o lúdico, o fazer e o celebrar, o captar recursos e o realizar"


E então... quer entrar no mundo do Dragong Dreaming? 




O Dragon Dreaming é uma forma extremamente inspiradora e com alta capacidade motivacional de gerenciar projetos. A primeira pergunta que John fez para o público, assim que começou seu workshop, foi questionar o porquê de alguns projetos serem tão bem sucedidos, enquanto outros fracassam.

John contou que durante 16 anos observou diversas iniciativas e delas tirou a seguinte estatística: apenas uma em cada mil “idéias” de projetos se torna uma iniciativa bem sucedida que dura mais de três anos! Ele apontou que os processos e metodologias de gerenciamento de projeto aplicadas nos projetos com sucesso e nos que falham são as mesmas, então a pergunta é: onde mora a diferença?

John apontou que qualquer projeto nasce em uma fase inicial: o estímulo. E que a origem pro estímulo é o sonho. O detalhe é que a nossa sociedade nos ensina a parar de sonhar, ou no caso de quem sonha, a abandonar os sonhos.  O grande diferencial está na capacidade de compartilhar os seus sonhos com outras pessoas, pois é nos sonhos que moram toda a nossa criatividade, inspiração, entusiasmo e capacidade de inovação. John contou que 90% dos projetos param nesse estágio dos sonhos, justamente porque os sonhadores não compartilham seus projetos com outras pessoas, e essa é a etapa inicial.

A segunda etapa de um projeto é a do planejamento. E aí que outros 90% desses 10% restantes param: simplesmente porque grande parte dos planos não funciona! As pessoas tendem a desistir nessa fase dos planos, e aqui fica o limiar da motivação, porque quando começam a surgir os primeiros problemas, a tendência das pessoas é abandonar esses planos, e por conseqüência, os sonhos.

Contudo, 10% dos sonhos que viraram planos sobrevivem, e daí eles entram em uma etapa nova: a da realização. Contudo, John explicou que a nossa sociedade é baseada em um jogo de perde-ganha, no qual sempre existem ganhadores e perdedores. São dezenas de exemplos cotidianos de como isso ocorre: no sistema de saúde, há o doente e o saudável, no judiciário, o culpado e o inocente, na sociedade, o rico e o pobre. Sempre tem alguém perdendo. Um projeto gerenciado de acordo com as metodologias comuns também é baseado no jogo de perde-ganha: os “sonhadores” são o topo da pirâmide, enquanto os “realizadores” estão na base dela, já que são os responsáveis pela ação, o que constitui uma base hierárquica, no qual os “sonhadores” são os vencedores e os “realizadores”, os perdedores.

Nesse momento, surgem mais problemas, e segundo os “sonhadores”, é porque os “realizadores” falharam em executar o plano, enquanto os “realizadores” acham que os “sonhadores” simplesmente perderam contato com a realidade. Daí, 90% dos projetos que sobraram morrem, porque o projeto não é sustentável.

Portanto, surge uma nova pergunta: como esse um projeto, dentre os 1000 sonhos iniciais, ultrapassou tantos desafios? John respondeu com apenas uma palavra: a celebração.  É ela a responsável por conectar os “realizadores” com os “sonhadores”! Essa é a etapa da resposta. A celebração não é baseada apenas em festas e confraternizações, mas na capacidade de dar feedback positivo a todos os participantes do projeto e reconhecer o trabalho duro. De acordo com John, 25% do tempo de um projeto deveria ser concentrado na celebração, pois é ela que é capaz de manter a energia dos realizadores alta e manter a capacidade motivacional da equipe.

Ele ainda afirmou que um projeto bem sucedido deveria contar com todos os quatro tipos de pessoas descritas acima: sonhadores, planejadores, realizadores e celebradores. E que, obviamente, esse cenário gera um ambiente de conflito. Mas tudo bem, porque segundo John, isso é sinal de um bom projeto. A chave está em transformar a interação entre a equipe em um jogo ganha-ganha, que seja colaborativo. Daí está a resposta de como tornar um projeto sustentável, porque se não existem perdedores, o índice de defecção do projeto praticamente inexiste.

Suponhamos que existe uma pizza com tudo o que é necessário para fazer um projeto ser sustentável e ter sucesso. Nela estão reunidos todo o conhecimento, sabedoria, habilidade e todos os demais ingredientes necessários. John apontou, durante a palestra, que uma pequena fatia dessa pizza é de coisas que você já sabe. Outra fatia, um pouco maior, contém as coisas que você sabe que não sabe, o que significa que você pode se informar a respeito. O grande problema é que a maior parte da pizza tem o seguinte conteúdo: coisas que você não sabe que não sabe! A questão aqui é a seguinte: como lidar com o total desconhecido?

John disse que ai está o porquê você precisa dos quatro tipos de pessoa no seu projeto e porque compartilhar é tão importante: pode ser que as pessoas diferentes de você saibam das coisas que você nem sabe que não sabe, auxiliando a construir essa pizza do projeto sustentável de sucesso. O jogo se torna ganha-ganha e colaborativo. Esse momento em que você descobre algo que você “não sabia que não sabia” foi denominado por John de “momento AHA!”. Segundo ele, quão maior o número de “momentos AHA!” você atingir, maior a possibilidade de sucesso do seu projeto.

Então John fez uma nova pergunta: como levar essa roda, constituída pelo sonhar, planejar, realizar e celebrar do início ao fim do projeto, com sucesso? E mais que isso, como garantir que o fim do seu projeto, a sustentabilidade dele, esteja realmente no fim planejado? De acordo com John, a grande maioria dos projetos é levada de maneira errada, por isso não atingem essa sustentabilidade. A maior parte do trabalho dos projetos fica concentrada na parte final de sua gestão, criando um cenário em que ele está tão acelerado que, mesmo depois do fim demarcado, você continua a mover esforços, ultrapassando o limite. A questão dos projetos que atingem esse ponto é que, depois de ultrapassado o final, e continuado o trabalho, eles tendem a colapsar. Um projeto sustentável deveria parar no fim demarcado.

O ponto, portanto, segundo John, é conseguir concentrar a maior parte do trabalho antes do ponto de inflecção, que se concentra no meio da curva de gestão de projeto. Depois desse ponto, os esforços vão se desacelerando lentamente, e, portanto, o atingir o final do projeto e terminar os trabalhos ocorrem quase que naturalmente. Essa é a curva de um projeto sustentável.

A curva de motivação vai de maneira completamente distinta à de gestão do projeto. A curva de motivação atinge o seu clímax ainda na etapa do sonhar, ali, no limiar com a etapa do planejar, que é quando o estágio de “lua de mel” do projeto termina e os problemas começam a ocorrer. A motivação, a partir daí, passa a cair vertiginosamente, passando por estágios distintos. A parte inicial dessa queda é o estágio de negação, porque você ainda está tão ligado no estágio de lua de mel que não que reconhecer os problemas. John afirma que esse estágio é o mais perigoso deles, porque não se lida com as dificuldades assim que elas aparecem, postergando decisões que possam corrigir os problemas. O estágio a seguir é o de “barganha”, que encontra justamente o ponto de inflecção, aquele no qual ocorre a maior parte do trabalho e se encontra no meio do processo de gestão do projeto. Na barganha, você tenta negociar as funções, obrigações e ações, tentando gerir os riscos e problemas do projeto. Esse estágio é seguido por outro, que em português é chamado de 3 C’s. O primeiro C é chamado de “congelar”, no qual você paraliza as atividades. O segundo C é o “culpar”, no qual você busca os responsáveis, culpados, pela falha do projeto. E, finalmente, o terceiro C é o “correr”, no qual você simplesmente abandona o projeto, bem no ponto em que deveria estar o fim do projeto. Ou seja, esse é um projeto que falhou.

Como John explicou, grande parte dos projetos que chegou até esse estágio continuam a mover esforços além do limite estabelecido, o que leva os projetos para um novo estágio, o da recuperação, que coincide com a celebração, sendo o primeiro momento, desde o fim da lua de mel, que existe um aumento na motivação. O estágio seguinte, e derradeiro, é o de transformação, que segue com mudanças no projeto, corrigindo os erros.  Mas esse foi um projeto não sustentável, porque ele terminou além do fim estipulado, contou com defecções e teve grande queda de motivação. É por isso que John afirmou que a chave dos projetos bem sucedidos está na celebração, porque é ela a responsável por aumentar a motivação e estimular as pessoas. A resposta está, portanto, em conseguir antecipar a celebração para assim que ocorrer a primeira queda de motivação.

O desafio está no fato em que nunca se precisou de tantos projetos sustentáveis e de tanta cooperação como agora, e John veio até nós oferecer o dragon dreaming como alternativa de como chegar lá. Segundo John, é onde os dragões dormem, além da nossa zona de conforto, que estão as respostas, então a primeira ação é voltar a sonhar e daí, partir para o gerenciamento desse projeto, o sonho!

* depois eu vou pôr um link para um outro blog com esse texto melhorado (editado, cortado e menor) e com fotos dos desenhos e gráficos que o próprio John Croft fez durante a palestra, o que vai facilitar essa compreensão de curvas, pizza e roda.

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